24.6.11




O Dia Mais Triste De Todos Os Dias Tristes

Eles se encontraram
Ela com o terninho marrom com a flor lilás na lapela
Ele com o all star preto de sempre
Ele segurou na mão dela, sem entrelaçar os dedos,
mas apenas tocando de leve as pontas.
Sentaram na lanchonete americana
Ela pediu um sanduiche pequeno, tava sem fome
Ele pediu o maior como sempre.
Sentaram
Ela falava, falava, como uma promotora no assassinato do ano
Ele permanecia
Permanecia e só. Como sempre. Calado.
Era ela e a parede da lanchonete americana.
Era ela e a muralha, o coração instransponível
Ela falou como ele era um garoto trancado
Falou como a garota passional que era.
Isto não combinava.
Ela pensava em todos os motivos que o fizeram desistir.
Mas talvez tenha sido somente o desencanto...
A batata frita ficou fria e borrachuda e o refrigerante sem gás
Levantaram e seguiram pela larga avenida.
Agora, cada qual por um lado da calçada.
Seguiu-se o silêncio
Cada qual com seus pensamentos.
A despedida foi quieta
Naquele momento nada mais havia por falar...
Ela pegou na mão dele e disse tchau.
Só que ela pegou na mão dele e entrelaçou os dedos ainda mais uma vez.
Mas disse tchau.
O que mais poderia fazer ?

20.6.11



Um Dia Frio de Janeiro Sob Uma Chuva Fina de Uma Tarde Cinzenta ...

Um banco velho de madeira com detalhes em ferro, perdido em meio a um jardim de sombra fresca..Eu me sentei e comecei a devorar cigarros para combater minha ansiedade....Havíamos marcado um encontro secreto ali, por trás daqueles arbustos, longe das vistas de todos, não queríamos partilhar nossa paixão com ninguém.

Eu te enxerguei andando por detrás das folhagens, com uma boina que cobria seus cabelos lisos e cor de mel, na altura do queixo...Seu rosto era plácido, corado, os olhos brilhantes...Chegou perto de mim, tinha um cachecol colorido com as cores do arco íris...Chegou bem perto, nosso olhos no mesmo nível, já que éramos da mesma altura. Podia sentir sua respiração a fazer pequenas nuvens bem próximo ao meu rosto...Pegou o cachecol e o pôs em torno do meu pescoço..O beijo, este, nem posso descrever...Seria isso o amor, não sabermos descrever as sensações ??

Segurou minha mão na sua, mãos mornas em contato com as minhas frias, deitou a cabeça em meu ombro e fomos andando pela alameda, pisando nos desenhos das poças de chuva... O sol morno se punha no horizonte. ... E você, puxando-me pelo cachecol, beijou-me. E aquele momento passou tão rápido que só percebi quando seus lábios lentamente foram descolando dos meus. Eu abri os olhos, toquei seu rosto com as pontas dos dedos, e num impulso você me perguntou “ Então, será que agora tem certeza que me ama ?” Teus olhos sorriam sapecas pra mim...Te respondi “ Estes beijos que sempre rouba são eles que respondem por mim..Pode roubá-los e aprisioná-los para sempre, é assim que será” .

Ainda tentei ver o sol ao longe, mas anoitecia e por aquela hora já estávamos cercado pela penumbra da noite...A chuva voltava a cair, desta vez pingos frios e grossos...Segurei forte sua mão e sussurrei baixinho, enquanto corríamos por aquela estrada margeando os trilhos do trem “ te amo, simplesmente te amo” e seguimos...Me sentia o moço mais feliz do Universo.

9.6.11



Porque Quase Tudo Tem Fim...

Abro a caixa e vejo as fotografias
Imagens de nós dois sorrindo e ao fundo aquele jardim do Aterro
O mar, o sol que te fazia fechar os olhos e luzir seus cabelos
Revivo nossas caminhadas pelas ruas frias daquela outra cidade
Chego em nossa casa e todos os cantos lembram de nós
A sala vazia que eu não consigo preencher dos risos e abraços de antes
O tapete com a mancha do café que você derrubou
Os livros que abro e dentro encontro pequenas frases de amor
Grifos verdes florescentes e dedicatórias
Sua mania de me transformar em personagens de poemas.
Me explica porque existe fim
Me explica porque existem caminhos que se separam
Por que fizemos planos se não iríamos seguir
Desfizeram-se todos e eu fiquei parado no meio da nossa casa
Em quais travesseiros você assenta sua cabeça de fios claros ?
Que mares refletem no fundo dos seus olhos castanhos ?
Como chama o seu filho agora ?
Tantas vezes buscamos significados bonitos pro nome de nossa criança
Ontem vi sua melhor amiga e não busquei notícias
É tão dolorido e distante e ainda assim presente
Me explica tantas lembranças
Se um dia viveríamos pra sempre juntos
E agora...Onde está você ?
Repito tantos vazios dentro de mim...
Perdi tantas pessoas que amo...
Sinto falta do meu pai e das conversas na cozinha
E nesse caminho de grandes vácuos
Tenho a impressão que me morro um pouco a cada dia
Não ter você por perto é mais um corte de sonhos que fiz...
Renasço todos os dias como uma criança que ainda busca...
Mas sei que um dia tudo terá fim...
E será só eu sem você...

7.6.11



Sim, Nós

Você nem desconfia mas sim eu combino com você
Somos um pacto feito: eu, você que desconhece e meu desejo
Se você olhar pra palma da sua mão, lá tem uma letra
Você procura a felicidade incessantemente, será que ela existe ?
Você procura a outra parte de você, será que ela existe ?
Você deixa em casa seus livros, seu porta retrato, seu travesseiro
Atravessa as ruas, dobra as esquinas
Troca de amor, retorna a rotina
E não sabe, mas eu sempre combinei com você
Sua irmã, sua amiga, aquela que cuida
Chá doce, maçã do amor
Leio poesias em voz alta, dobro sua camisa rosa
Vermelho é uma cor que não gosto, exceto em você
O mundo da voltas
Borboletas nascem no seu jardim...
Cactos florescem
E sim, linha paralelas se encontram...

5.6.11



Sim, Eu
I
Desejar amar querer e este Ser não te querer
Tão complicado existir o amor
Tão complicado insistir, Amor
Mas meu corpo todo não escolhe quem pode me fazer bem
Cabeça, coração, alma, de tudo sou composto e brigam entre si
Sou um moço que contempla um dilema que se estende diante de mim:
Eu te amo e nem quero pensar nisso
Deixo ali, quieto, torcendo pra esse amor não crescer
O Ser, não te quer, não por um “não querer” consciente
Não te quer porque assim como você ama alguém além, distante
Tão complicada essa história do Drummond
“João que amava Teresa que amava...”

Sim, Eu
II
Amor é palavra simples, como simples é seu nome,
3 letras ( EU), 4 letras ( AMOR), 8 letras ( VOCÊ)
Mas as coisas simples nem sempre são as mais exatas
Na vida de fato o que é exato ?
Ele não te quer porque vislumbra outro horizonte
Ele não te conhece, não te escuta, coração pulsa por outro Ser
Tão complicado O Amor
Tão complicado Você, Amor
Não quis de verdade
Não cultivei
Fugi, neguei
Fingi não ser amor
E de tanto fingir não ser amor achei que você acreditava que eu não te amava....

Sim, Eu
III
Tão grandioso é O AMOR
Tão imenso é tua presença em mim , Amor...
Transbordo todos dos dias
Pela manhã e a tardinha me vem sua presença
Sempre no mesmo horário...
Amor assíduo, que não deixa de vir
Como um compromisso, sentir você, adorar você
Que sempre está tão longe
È um tipo de amor que não exige tocar,
Não exige trocar
Não deseja beijar
Não mistura você em mim
E um tipo de amor que queria apenas compartilhar sorrisos e palavras.
Eu minto ás vezes...
Não é um amor desses comuns, se é que nenhum AMOR é comum...
Digo então, não é um amor desses amplamente conhecidos e cantados..
E um amor esquisito, alheio, solitário, não correspondido, ansioso e urgente
Um amor que tem medo de realizar-se mas que ainda assim me nutre de poesia
Me deixa mais esperto e inteligente todos os dias...
É um amor amplo o meu
E sendo meu, eu crio você e desdobro pra mim uma quase novela de Jane Austen
Sou personagem, lord inglês quase um dândi...
Seria eu um romântico nascido fora do meu tempo ?

2.6.11



Sim, Você

Eu que sou
Na linha do tempo sempre serei
Eu que sonho
Nas noites de insônia
Você quer ser meu amor eterno ?
As coisas que penso
Vejo em nós
Arquiteto desenhadamente nosso encontro
Perfeito, pleno, silêncio, sorriso, abraço, afeto
Um pacto de simples desejo e amor finalmente encontrado
Finamente combinado, eu e você
Te faço poema, entorto o poeta
Desfaço a lógica das coisas
Te ponho na minha cabeceira
Envolto em moldura de palavras doces
Te beijo leve feito pluma
Sua pele incandescente que me atrai
Cantarolo canções que me contam histórias
Passem os séculos e os rios não se encontrarão
Desaguando forte, revolto naquele mar
E o fluxo do que tem que ser, não mudará
Não mudará ? O que posso fazer pra mudar ?
Sonhar é de mim...Sim,sonho você